Um fisioterapeuta de MSF atende a um paciente ferido durante o terremoto no Hospital Concepção, Imaculada, em Les Cayes. Haiti, setembro de 2021. © Pierre Fromentin/MSF

Médicos Sem Fronteiras (MSF) respondeu a emergências e manteve a prestação de serviços médicos vitais durante um ano extremamente desafiador no Haiti. 

Além de assistir as pessoas afetadas pela violência na capital, enviamos equipes para apoiar os sobreviventes de um terremoto no sul do país e pessoas feridas devido à explosão de um caminhão de combustível na cidade de Cap-Haïtien, no norte. 

Violência e insegurança 

Um alto nível de violência crônica, incluindo confrontos armados, roubos e sequestros, afetou pessoas em toda a capital, Porto Príncipe. Bairros inteiros estiveram sob o controle de diferentes grupos armados, que se alternavam no poder. O presidente foi assassinado em sua casa, em 7 de julho. 

Em nosso hospital de trauma nos arredores da cidade de Tabarre, realizamos atendimento cirúrgico e oferecemos acompanhamento para pacientes com ferimentos potencialmente fatais causados por tiros, esfaqueamentos e acidentes de trânsito. Por vezes, recebemos uma grande quantidade de pacientes feridos de uma só vez e, por isso, ampliamos, temporariamente, a capacidade de leitos do hospital. 

Em fevereiro, a insegurança causada por confrontos entre grupos armados nos impediu de continuar trabalhando em nosso hospital Drouillard em Cité Soleil, a principal estrutura de saúde dedicada a queimaduras no país. Com exceção da emergência, todas as alas do hospital foram fechadas e nossos programas e pacientes foram transferidos para o hospital de Tabarre, fundindo dois hospitais em um. 

Em maio, um membro da nossa equipe do hospital de Tabarre foi atacado e morto a tiros a caminho de casa, voltando do trabalho, embora não tivesse resistido aos agressores. 

Em junho, nosso centro de emergência em Martissant foi alvo de tiros após semanas de intensos confrontos entre grupos armados. Foi a primeira vez em seus 15 anos de história que nossa instalação de saúde sofreu um ataque desse tipo, e decidimos fechá-la, já que não podíamos garantir a segurança da equipe nem dos pacientes. Em agosto, abrimos um novo centro de emergência em Turgeau, outro distrito de Porto Príncipe, oferecendo serviços semelhantes. No final de 2021, passamos a apoiar o pronto socorro de um hospital público em Carrefour, para melhorar o acesso a cuidados de saúde na parte sul da capital. 

Até agosto, cerca de 19 mil pessoas haviam fugido de suas casas devido a confrontos armados [fonte] e estavam hospedadas com parentes ou em locais coletivos precariamente adaptados, tais como escolas ou igrejas. Oferecemos assistência médica às pessoas afetadas pela violência e pela insegurança por meio de clínicas móveis em acampamentos para pessoas deslocadas e em outros locais, e melhoramos as instalações de água e saneamento. 

Continuamos administrando nosso programa de cuidados integrais para sobreviventes da violência de gênero e perpetrada por parceiros íntimos em nossas clínicas em Porto Príncipe e no departamento de Artibonite. Também treinamos a equipe do hospital público e trabalhamos com organizações e comunidades locais para aumentar a conscientização sobre a violência sexual e as questões de saúde sexual na adolescência. 

Resposta ao terremoto 

Em 14 de agosto, um terremoto de magnitude 7,2 atingiu o sul do país, matando 2.248 e ferindo mais de 12.700 pessoas e causando danos estruturais generalizados. [fonte] Horas depois, uma equipe cirúrgica partiu do nosso hospital de Tabarre rumo ao Hôpital Saint Antoine em Jérémie, chegando ao local no dia seguinte. A equipe do hospital havia começado a limpar feridas, tratar fraturas e encaminhar pacientes para a capital por via aérea. Nossa equipe se uniu à equipe do hospital e realizou cirurgias ortopédicas e encarregou-se do monitoramento dos sobreviventes do terremoto nos meses seguintes. 

Encaminhamos alguns pacientes de trauma que não puderam ser tratados localmente para nosso hospital de Tabarre e para o recém-inaugurado centro de emergência em Turgeau, e enviamos equipes para apoiar outras instalações médicas nas áreas afetadas. 

Em Les Cayes, oferecemos cuidados cirúrgicos e pós-operatórios a pacientes de trauma no Hôpital Immaculée Conception. No hospital OFATMA, gravemente prejudicado pelo terremoto, apoiamos temporariamente a equipe no manejo do atendimento pediátrico e neonatal estruturado em tendas. 

Em Port-à-Piment, o terremoto causou graves danos a um hospital público onde há anos oferecemos serviços de saúde sexual e reprodutiva. Imediatamente, realocamos os serviços médicos – primeiramente, fazendo o uso de tendas e depois transferindo as atividades para nossa base logística – para garantir a continuidade dos cuidados às gestantes e aos recém-nascidos. Nos meses seguintes, começamos a construir uma nova maternidade na comunidade. 

Em outras áreas dos departamentos de Sud e Nippes, oferecemos cuidados básicos de saúde e apoio em saúde mental por meio de clínicas móveis e distribuímos itens de primeira necessidade, incluindo abrigos de emergência e itens de higiene. Como o sistema de saúde ali já era de difícil acesso, muitos pacientes chegaram para ser atendidos por conta de problemas e lesões não relacionadas ao terremoto, como dor abdominal, gastrite, infecções e febre. Em várias comunidades onde a infraestrutura foi muito danificada, incluindo Baradères, fornecemos água potável e reparamos as redes de água. 

Escassez de combustível 

No final de outubro, grupos armados confiscaram cargas de combustível que haviam sido enviadas do principal porto da capital, o que resultou numa escassez generalizada de combustível. As ruas ficaram quase desertas de veículos motorizados, o que dificultou e encareceu o acesso de profissionais de saúde e pacientes às instalações de saúde. Muitos hospitais e centros de saúde sofreram o duplo golpe da falta de pessoal e da falta de eletricidade, já que passou a haver escassez de combustível para os geradores. 

Na medida em que implementamos medidas de emergência para reduzir nosso consumo de energia, fomos levados a reduzir temporariamente as atividades médicas em nosso hospital em Tabarre, tratando apenas pacientes com lesões potencialmente fatais. Rapidamente, instalamos 84 painéis solares para contribuir com a geração de energia alternativa para o hospital. Em dezembro, a crise de combustível arrefeceu e os hospitais, incluindo o nosso, puderam voltar a operar normalmente. 

Em 14 de dezembro, lançamos uma resposta de emergência a um incidente com vítimas em massa na cidade de Cap-Haïtien, no norte do país. Um grupo de pessoas coletava combustível que vazava do tanque de um caminhão que havia capotado quando o veículo explodiu, causando muitas mortes e deixando muitos feridos. Levamos alguns pacientes para o nosso hospital de Tabarre por via aérea e tratamos outros no Hôpital Universitaire Justinien, em Cap-Haïtien. 

Dados referentes a 2021

25.000

Consultas de emergência

3.220

Pessoas receberam tratamento por violência física intencional

1.560

Pessoas receberam tratamento por violência sexual

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