Em 2021, Médicos Sem Fronteiras (MSF) retomou as atividades de busca e salvamento no Mar Mediterrâneo Central, a rota de migração mais mortal do mundo. 

Após encerrar uma colaboração de seis meses com nosso parceiro operacional Sea-Watch em dezembro de 2020, relançamos as operações de busca e salvamento a bordo do navio fretado Geo Barents em maio de 2021. O navio foi modificado para que estivesse adequado para a condução das operações e está equipado com dois barcos de resgate rápido, dois conveses para os sobreviventes, uma clínica, uma sala de parto e uma sala de observação. 

Embora o Geo Barents atenda plenamente às regras e regulamentos das autoridades marítimas, em julho, as autoridades italianas identificaram 22 irregularidades, o que levou à suspensão das atividades por três semanas. Mais uma vez, o uso discriminatório dos regulamentos e a interpretação motivada politicamente das disposições legais foram usados para impedir que uma organização humanitária realizasse seu trabalho de salvar vidas. 

Entre junho e dezembro, resgatamos 1.903 pessoas em 30 operações de resgate marítimo. Em novembro, durante um resgate na costa da Líbia, nossa equipe encontrou os corpos de 10 pessoas no convés inferior de um barco de madeira superlotado que havia deixado a Líbia no dia anterior com mais de 100 pessoas a bordo. Acredita-se que essas pessoas tenham sido asfixiadas por vapores de combustível. 

Após cada resgate, oferecemos assistência médica e psicológica aos sobreviventes, muitos dos quais sofriam de hipotermia, intoxicação por combustível ou enjoo, bem como problemas de pele ou dores generalizadas no corpo, resultado das terríveis condições de vida e da violência vivenciada na Líbia. Muitos dos sobreviventes também relataram ter sido submetidos à tortura ou à violência sexual; alguns ainda apresentavam marcas visíveis dos abusos sofridos em seus corpos. 

MSF continua a denunciar as consequências mortais das políticas migratórias europeias e a ausência de rotas migratórias seguras e legais, e solicita à União Europeia (UE) e aos governos europeus que suspendam seu apoio político e material ao sistema de retorno forçado à Líbia.