Wael Abdul carrega suas filhas gêmeas recém-nascidas, que estão sendo atendidas em uma unidade especial apoiada por MSF no hospital Al-Jamhouri, na cidade de Taiz. Iêmen, junho de 2021. © Nasir Ghafoor/MSF

Com a guerra no Iêmen entrando em seu sétimo ano, os civis continuaram a sofrer o impacto dos combates. Muitos foram feridos, mortos ou deslocados em meio aos confrontos entre os vários grupos.

O conflito e a recente escalada da violência entre as partes combatentes aumentaram a vulnerabilidade do povo iemenita. Médicos Sem Fronteiras (MSF) não só prestou cuidados vitais às pessoas feridas nestes surtos de violência, como também tratou os pacientes sofrendo os efeitos de longo prazo da guerra, como questões relacionadas com saúde mental, desnutrição e dificuldades de acesso a serviços essenciais, tais como cuidados materno-infantis.

 

Impactos diretos da guerra

Durante 2021, enviamos equipes para tratar pacientes feridos de guerra em todo o país, de Mocha, no oeste, a Marib, no leste.

Em novembro, nosso hospital em Mocha respondeu a múltiplos incidentes com grande influxo de feridos, na medida em que a linha de frente de batalha, ao sul de Hodeidah, onde Ansar Allah luta contra uma coalizão de grupos armados aliados ao governo, foi cenário de intensos combates.

A violência em Marib, entre Ansar Allah e as forças do governo iemenita, foi particularmente feroz, forçando milhares de pessoas a fugir de suas casas. Nos acampamentos onde se estabeleceram, muitas vezes faltam itens básicos, como comida, água e abrigo adequado. Em março, lançamos uma resposta de emergência no hospital geral de Marib e trabalhamos durante todo o ano para aumentar sua capacidade para lidar com os frequentes influxos de feridos de guerra e outros pacientes de trauma.

Nossas equipes também viram um número crescente de pessoas com transtornos de saúde mental causados pelos combates, e o estresse e o trauma associados a eles. Para responder a essas necessidades, em maio, abrimos uma nova clínica especializada em saúde mental no hospital da cidade de Al-Jomhouri, na província de Hajjah, onde oferecemos atividades de psicoeducação, aconselhamento e psicoterapia, bem como atendimento psiquiátrico a pessoas com condições graves de saúde mental.

 

Cuidados de saúde materno-infantis

O acesso oportuno a cuidados médicos seguros e de boa qualidade para gestantes e recém-nascidos é um ponto de atenção em todo o Iêmen, uma vez que as necessidades superam amplamente os recursos disponíveis. Na província de Hodeidah, em dezembro de 2020, começamos a administrar o hospital materno-infantil Al-Qanawes, oferecendo serviços de maternidade, incluindo cesarianas, internação neonatal e apoio à saúde mental. No Hospital Geral de Abs em Hajjah, mantivemos o apoio à emergência, às enfermarias pediátricas e neonatais, à maternidade, que assiste mais de 1 mil partos por mês, e ao centro de nutrição terapêutica intensiva.

Desde 2016, MSF administra um hospital materno-infantil em Taiz Houban, oferecendo cuidados de estabilização de traumas, serviços de maternidade para casos complicados e de alto risco, internação pediátrica e neonatal e nutrição terapêutica intensiva. A partir de junho de 2021, na cidade de Taiz, começamos a gerenciar os cuidados maternos e neonatais do hospital Al-Jomhouri para responder à necessidade por serviços especializados de saúde reprodutiva, em colaboração com o Ministério da Saúde. Esse redirecionamento significou o fim de nosso apoio ao hospital infantil sueco-iemenita da cidade e ao hospital de Al-Thawra.

 

Desnutrição

Na cidade Abs, na província de Hajjah, nossas equipes trataram um número alarmante de crianças com desnutrição. Nosso centro de nutrição terapêutica intensiva operou com capacidade superior a 100% durante todo o ano, e nossas equipes trataram muito mais crianças com desnutrição grave e complicações médicas do que no ano anterior.

Outros projetos de MSF no norte do Iêmen, como os de Ad-Dahi em Hodeidah, Haydan, em Sa’ada, e Khamir, em Amran, também registraram aumentos do número de crianças tratadas por desnutrição, embora não tão significativos como os de Abs.

Grande parte da desnutrição que vemos no Iêmen é causada pela falta de acesso a cuidados básicos de saúde para crianças – se crianças doentes não recebem o tratamento de que precisam, é muito mais provável que fiquem desnutridas. A inflação também está afetando cada vez mais a capacidade dos iemenitas de alimentar seus filhos e arcar com os custos de transporte para o hospital, o que contribui tanto para a desnutrição quanto para o tratamento tardio de doenças.

 

COVID-19

A pandemia de COVID-19 continuou a ter um impacto severo no Iêmen em 2021, com picos da doença no início e novamente no final do ano.

Fizemos a gestão de centros de tratamento em Sana’a, Aden e Ibb, onde administramos algumas das únicas unidades de terapia intensiva do país. As taxas de mortalidade foram altas, e sabemos que muitas pessoas de áreas remotas não conseguiram tratamento porque não havia disponibilidadede serviços localmente, ou porque não tinham dinheiro para viajar para as cidades onde estávamos trabalhando.

Boatos e desinformação sobre a COVID-19 circularam livremente, exacerbando o medo da doença e a estigmatização dos infectados. Além disso, as autoridades de Ansar Allah continuaram a se recusar a abordar publicamente a propagação do vírus. A recusa em vacinar a população, combinada a outros fatores, tais como problemas relacionados com o fornecimento de doses e a implementação de campanhas de vacinação em áreas controladas pelo governo, bem como a desconfiança do público, fez com que o Iêmen registrasse uma das menores taxas de vacinação contra a COVID-19 do mundo em 2021.

 

Uma resposta humanitária ineficiente

MSF continua pedindo por uma revisão radical do sistema de ajuda no Iêmen. Apesar das grandes quantias financeiras gastas na resposta humanitária, grande parte da ajuda internacional continua sendo ineficiente, na medida em que faltam flexibilidade para responder efetivamente a emergências e planejamento para garantir a provisão de cuidados de saúde no longo prazo.

As autoridades do Iêmen também precisam fazer muito mais para apoiar e facilitar o trabalho das organizações humanitárias. As limitações impostas à ação humanitária são muito severas e impedem a oferta de ajuda de maneira oportuna e independente onde é mais necessária.

Dados referentes a 2021

104.800

Pacientes internados

4.840

Pacientes internados por COVID-19

30.500

Partos assistidos

60.400

Consultas ambulatoriais para crianças com menos de 5 anos

28.300

Intervenções cirúrgicas

6.770

Crianças admitidas em programas de nutrição intensiva

Filtrar por