Paciente com COVID-19 recebe oxigênio na enfermaria de COVID-19 de MSF no hospital Al-Kindi, em Bagdá. Iraque, fevereiro de 2021. © Hassan Kamal Al-Deen/MSF

No Iraque, Médicos Sem Fronteiras (MSF) continuou a atender às necessidades das pessoas que sofrem os efeitos de longo prazo da guerra e apoiou a oferta de cuidados para COVID-19 e outras doenças. 

Em 2021, administramos uma ampla gama de serviços médicos e de saúde mental, bem como respostas de emergência no país. Também trabalhamos para ampliar nossa capacidade de atenção, por meio do treinamento de pessoal e da construção de novas instalações. 

O impacto da pandemia 

O Iraque continuou a ser severamente afetado pela pandemia de COVID-19, com muitas pessoas adoecendo e morrendo e os hospitais tendo de se concentrar no tratamento das pessoas em estado grave em detrimento da manutenção das atividades regulares. 

Bagdá, a capital, foi duramente atingida. Em resposta à situação, ampliamos para 52 o número de leitos da unidade de terapia intensiva (UTI) dedicada à COVID-19 que administramos no hospital de Al-Kindi, para acomodar um número maior de pacientes críticos. Nossa equipe trabalhou em estreita colaboração com as equipes administrativas e médicas do hospital para oferecer cuidados essenciais à vida, fisioterapia e apoio à saúde mental. 

Nossa equipe relatou que a maioria dos pacientes internados na UTI já estava em estado crítico no momento de sua chegada ao hospital, pois preferiram ser tratados em casa e o atendimento hospitalar foi considerado apenas como último recurso. Infelizmente, isso se refletiu no fato de que muitas pessoas já haviam desenvolvido complicações graves no momento de sua chegada, e a taxa de mortalidade em nossa unidade foi alta. 

As atividades regulares em Al-Kindi foram retomadas em outubro de 2021 e nosso projeto de COVID-19 foi transferido para a Cidade Médica de Bagdá, onde apoiamos o atendimento a pacientes graves e críticos de COVID-19 na UTI e elevamos os níveis de preparo dos profissionais de saúde, fornecendo treinamento e orientação.  

Ao longo do ano, também administramos uma unidade de COVID-19 em Mossul e uma ala voltada para pacientes leves e moderados no Hospital Geral Sinuni, em Sinjar. Além disso, apoiamos o Hospital Geral Tel Afar com treinamento essencial em prevenção e controle de infecções e doamos equipamento de proteção individual a um dos hospitais de COVID-19 de Bagdá para apoiar em seus esforços de combate ao surto. 

Tratando os efeitos colaterais da violência 

Durante o conflito armado entre o grupo do Estado Islâmico e as forças de segurança iraquianas entre 2014 e 2017, muitas instalações de saúde no centro e norte do Iraque foram danificadas ou destruídas e vários profissionais de saúde foram forçados a fugir. Isso dificultou o acesso a e a prestação de serviços de saúde sexual e reprodutiva para milhares de mulheres que vivem nessas regiões. Nossas equipes apoiaram a maternidade do hospital distrital de Hawija e continuaram a prestar os tão necessários serviços de maternidade, bem como cuidados pediátricos e neonatais em Mossul. 

Em áreas afetadas por conflitos, tanto recentemente quanto no passado, a saúde mental continua sendo uma questão crítica. Apesar da necessidade urgente, o Iraque enfrenta uma grave escassez de profissionais qualificados na área e os poucos serviços disponíveis estão localizados principalmente nas grandes cidades. Por essa razão, a saúde mental é um componente essencial das atividades de MSF em Sinuni, Mosul, Kirkuk, Bagdá e em outras partes do Iraque.  

MSF também trabalha para responder aos efeitos de longo prazo das lesões físicas sofridas durante décadas de guerra e violência, bem como aos traumas e queimaduras causados por acidentes e incêndios. As equipes de MSF em Bagdá e Mossul oferecem cuidados pós-operatórios integrais para garantir que os pacientes tenham as melhores chances possíveis de se recuperarem totalmente de seus ferimentos com fisioterapia, tratamento de infecções e apoio à saúde mental. 

Em Mossul, nosso hospital de cuidados pós-operatórios retomou suas atividades regulares no início de 2021, após ter sido temporariamente transformado em uma instalação de tratamento de COVID-19 em 2020. As melhorias feitas para tratar a COVID-19 – como, por exemplo, a substituição da ala de internação de 33 leitos por 40 quartos individuais de isolamento – também se mostraram úteis para os tratamentos pós-operatórios. Na realidade, muitos dos pacientes em nosso hospital chegam com infecções bacterianas multirresistentes e, por isso, as medidas de isolamento, no que se refere ao contato, são fundamentais. 

Além disso, construímos dois centros cirúrgicos adicionais para que pudéssemos realizar cirurgias avançadas. Isso nos permitiu ampliar nossos critérios de internação e admitir alguns dos pacientes do frágil sistema de saúde local. 

Em Bagdá, começamos a implementar uma nova estratégia para nossas atividades no Centro de Reabilitação Médica de Bagdá. Nosso objetivo é replicar nosso modelo de atendimento em outros hospitais da cidade e estamos trabalhando com cirurgiões para fortalecer os protocolos de atendimento pós-operatório em hospitais públicos. Isso não apenas impacta positivamente os resultados da recuperação de pacientes individuais, mas também ajuda a reconstruir a capacidade de um sistema de saúde que batalha para atender às necessidades de todos. 

Em setembro, antes das eleições parlamentares, que foram convocadas antecipadamente em resposta a um protesto, realizamos um treinamento de três meses sobre planejamento para o manejo de vítimas em massa para apoiar o hospital Sheikh Zayed, uma das principais instalações médicas em Bagdá.  Um mês depois, quando os protestos contra os resultados das eleições se tornaram violentos, ajudamos o hospital a ativar o plano. 

Enfrentando o fardo das doenças não transmissíveis (DNTs) 

 Melhorar os cuidados voltados às doenças não transmissíveis, tais como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, cujas prevalências são extremamente altas e representam as principais causas de morte no Iraque, é outra prioridade de MSF. Além do tratamento, oferecemos apoio à saúde mental e serviços de promoção de saúde para pacientes com DNTs em nossos projetos nas cidades de Hawija e Al-Abbasi, na província de Kirkuk. No final de 2021, mais de 6 mil pacientes estavam recebendo tratamento para DNTs. 

Nossas equipes continuaram apoiando o Instituto Nacional de Tuberculose do Iraque na detecção e diagnóstico da tuberculose (TB) e da tuberculose multirresistente (TB-MDR) em Bagdá. MSF introduziu um regime de tratamento inovador para pacientes de TB-MDR, envolvendo o uso de medicamentos mais novos e eficazes: a bedaquilina e a delamanida. O novo regime, recomendado pela Organização Mundial da Saúde, faz uso exclusivo de medicamentos orais, o que significa que os pacientes não precisam mais de injeções dolorosas diárias. Atualmente, todos os novos pacientes diagnosticados com TB-MDR no país são tratados com o regime oral, com apenas algumas exceções determinadas com base em requisitos médicos. 

Dados referentes a 2021

137.100

Consultas ambulatoriais

4.370

Consultas em grupo de saúde mental

3.640

Intervenções cirúrgicas

24.600

Pacientes internados

16.800

Partos assistidos, incluindo 2.330 cesarianas

18.700

Consultas individuais de saúde mental

61.900

Internações de emergência

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