Alguns dos nossos maiores projetos do mundo continuam localizados na República Democrática do Congo (RDC), em resposta a epidemias, desastres naturais e conflitos, na medida em que lidamos com as consequências da enorme insegurança na parte oriental do país. 

Médicos Sem Fronteiras (MSF) prestou uma ampla gama de serviços na RDC, de cuidados gerais a especializados de saúde, incluindo atividades cirúrgicas, vacinação, cuidados pediátricos e apoio as sobreviventes de violência sexual. Mais uma vez, em 2021, o tratamento e a prevenção de doenças infecciosas foram os principais eixos das nossas atividades. 

Resposta a surtos de doenças 

Poucos meses após as autoridades declararem o fim do surto maciço de sarampo, que durou de 2018 a 2020, o número de casos começou a aumentar novamente em várias províncias da RDC. Em resposta, reenviamos rapidamente nossas equipes móveis para ajudar a conter a propagação desta doença extremamente contagiosa.  

Ao longo do ano, nossas equipes realizaram campanhas de vacinação e trataram dezenas de milhares de pacientes, a maioria crianças menores de cinco anos. O grande número de focos epidêmicos fez com que as atividades contra o sarampo representassem a grande maioria das nossas intervenções de emergência durante o ano. Além dessas respostas emergenciais, apoiamos as autoridades a fortalecer a vacinação preventiva, o diagnóstico e a vigilância epidemiológica. 

O sarampo não é a única doença contagiosa endêmica na RDC. Em 2021, nossas equipes também responderam a surtos de cólera, febre tifoide, meningite e malária, bem como a dois surtos de Ebola no Kivu do Norte – um em fevereiro e outro em outubro – com atividades de vigilância, triagem, diagnóstico e atendimento a pacientes em instalações de saúde e de isolamento, e conduzimos clínicas móveis para assistir pacientes, suas famílias e as comunidades das áreas afetadas. 

Na medida em que duas novas ondas de COVID-19 atingiram o país, afetando principalmente a capital, Kinshasa, apoiamos a oferta de cuidados nas Clínicas Universitárias de Kinshasa e em outros centros de tratamento, que receberam muitos pacientes em maio. Também lançamos várias respostas de emergência fora da cidade e implementamos medidas para reforçar o isolamento e o tratamento de COVID-19 em todas as instalações de saúde que apoiamos. 

Combater a epidemia silenciosa de HIV/Aids, doença que causa a morte de quase 17 mil pessoas a cada ano na RDC, continuou sendo uma das prioridades médicas de MSF em Goma e em Kinshasa, onde seguimos oferecendo tratamento às pessoas que vivem com a doença em estágio avançado. A pedido do Ministério da Saúde, ampliamos nosso suporte avançado ao HIV, treinando equipes dos hospitais de Bunia (Ituri), Mbuji-Mayi (Kasai Oriental) e Boma (Kongo Central). 

Os efeitos devastadores da violência 

Após uma escalada da violência armada nas províncias de Ituri e Kivu do Norte, o governo declarou, em maio, um estado de sítio que ainda estava em vigor no final do ano. Os intensos confrontos armados e os ataques direcionados a civis forçaram milhares de pessoas a fugir de suas casas e exacerbaram as já críticas necessidades de saúde.  

Nossas equipes conseguiram manter ativos nossos serviços de saúde básicos e especializados nas duas províncias, incluindo os cuidados maternos e pediátricos, cirurgia e tratamento de desnutrição, ao mesmo tempo em que responderam às necessidades específicas das pessoas deslocadas e das comunidades locais por meio de consultórios móveis, encaminhamentos por ambulâncias, provisão de instalações de água e saneamento e distribuição de mosquiteiros, baldes e utensílios de cozinha. Apenas em Ituri, conduzimos essas atividades em mais de 20 locais onde se encontravam as pessoas deslocadas. 

Infelizmente, MSF e outras organizações humanitárias não foram poupadas da violência. Em outubro, tivemos que suspender nossas atividades em Bambo e Nizi (Ituri) após um ataque armado a uma de nossas equipes, no qual dois colegas foram feridos. Foram diversas as vezes em que nossas equipes testemunharam homens armados impondo sua entrada em instalações de saúde apoiadas por MSF no Kivu do Norte, em violação direta ao direito humanitário internacional. O aumento da criminalidade causou a redução do número de projetos de MSF e, por vezes, até mesmo a suspensão de todos os movimentos pelas ruas e estradas da região. No Kivu do Sul, tivemos que fechar dois projetos de longa data em Baraka e Kimbi, onde estávamos assistindo a pessoas deslocadas pela violência intercomunitária, após uma série de incidentes críticos que afetaram nossas equipes no final de 2020.  

Ao longo do ano, nossas equipes ofereceram apoio médico e psicológico a milhares de sobreviventes de violência sexual nas províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sul, Ituri e Maniema, afetadas por conflitos. Em Kasai Central, onde não houve combates ativos, tratamos mais de 270 sobreviventes de violência sexual a cada mês, o que reflete a extensão dessa questão, para além das áreas devastadas pela guerra.  

A emergência de Nyiragongo 

No dia 22 de maio, o vulcão Nyiragongo, perto de Goma, no Kivu do Norte, entrou em erupção, forçando centenas de milhares de pessoas de dentro e dos arredores da cidade a abandonarem suas casas em busca de segurança. Muito rapidamente, mais de meio milhão de pessoas ficaram sem abrigo, água potável e alimentos, bem como isoladas da ajuda humanitária, já que as estradas foram destruídas e o aeroporto fechado.  

MSF ofereceu apoio emergencial em Sake, onde muitas pessoas buscaram refúgio, bem como em Goma e na estrada para Rutshuru. Nossa prioridade foi fornecer água potável às pessoas deslocadas e às comunidades locais por meio da estruturação de reservatórios de água. Para evitar um surto de cólera, nossas equipes instalaram dispensadores de cloro em locais estratégicos e perto de fontes de água, construíram latrinas, apoiaram o centro de tratamento de cólera de Sake e realizaram atividades de promoção de higiene. Também apoiamos instalações de saúde para responder ao fluxo de pacientes por meio de doações de medicamentos, equipamentos médicos e colchões. Em Rutshuru, para onde dezenas de milhares de pessoas fugiram após a erupção, equipes de MSF ofereceram cuidados básicos de saúde e encaminharam pacientes que precisavam de tratamento especializado para o hospital local. Também construímos instalações de água e saneamento. Como muitas pessoas retornaram a Goma em poucos dias, apoiamos os centros de saúde da cidade com consultas básicas de saúde, medicamentos e itens de higiene.  

Dados referentes a 2021

1.753.200

Consultas ambulatoriais

9.550

Atendimentos a sobreviventes de violência sexual

717.000

Vacinações contra o sarampo em resposta a um surto

860

Pessoas com HIV avançado sob cuidados diretos de MSF

12.700

Intervenções cirúrgicas

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