Pessoas em uma canoa navegam nas águas da enchente em Bentiu, estado de Unity. Sudão do Sul, dezembro de 2021. © Sean Sutton

Em julho de 2021, a República do Sudão do Sul comemorou 10 anos de independência. No entanto, apesar de um acordo de paz e um governo unificado, a situação de segurança permaneceu volátil em muitas áreas.

Durante o ano de 2021, o Sudão do Sul foi atingido por várias emergências simultâneas, incluindo graves inundações, violência, insegurança alimentar e surtos de doenças. No final do ano, estimava-se que 8,9 milhões de pessoas – mais de dois terços da população – encontravam-se em necessidade de assistência humanitária.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) continuou respondendo às necessidades médicas e humanitárias urgentes, mantendo serviços essenciais de saúde em seis estados e duas áreas administrativas.

Terceiro ano consecutivo de graves inundações

Cerca de 835 mil pessoas em diversas regiões do país foram afetadas pelas inundações; os estados de Jonglei e Unity foram os mais duramente atingidos. As casas e os meios de subsistência das pessoas – suas plantações e animais –, bem como as instalações de saúde, escolas e mercados, ficaram debaixo d’água.

Bentiu, capital do estado de Unity, foi uma das áreas mais afetadas. Milhares de pessoas fugindo das inundações foram ao já superlotado campo de deslocados de Bentiu (anteriormente um local de Proteção de Civis [PoC]), enquanto outras improvisaram abrigo nas cidades de Bentiu e Rubkona. Enquanto isso, nas vilas de Haat, Pakur e Pakuem, no município ocidental de Ayod, estado de Jonglei, milhares de pessoas deslocadas ficaram ilhadas em localidades precárias quando o nível das águas das subiu.

Nossas equipes em Bentiu, Leer e Mayom, no estado de Unity, e Ayod e Fangak, no estado de Jonglei, responderam às imensas necessidades, oferecendo cuidados de saúde emergenciais por meio de clínicas móveis, hospitais e centros de saúde. Com esses projetos, tratamos dezenas de milhares de pessoas, principalmente por malária, desnutrição, infecções do trato respiratório e diarreia aquosa aguda. Além disso, distribuímos itens de primeira necessidade, incluindo lonas plásticas, mosquiteiros e sabão, às famílias deslocadas.

 

Violência e combates

Os conflitos entre os entes federativos e os combates entre facções continuaram em muitas partes do país ao longo do ano. Em Tambura, no estado ocidental de Equatoria, dezenas de milhares de pessoas foram desalojadas pelos combates no segundo semestre do ano, e houve relatos de centenas de mortes. Em resposta, enviamos equipes de emergência à região, com o objetivo de oferecer diversos serviços de assistência médica e humanitária, incluindo: apoio com água, saneamento e higiene em Duma, Nagero, Tambura e nos acampamentos próximos dali; treinamento e doações de medicamentos e materiais médicos para instalações básicas de saúde nos municípios de Duma e Ezo; e ajuda na reabilitação das alas ambulatorial, de internação e de maternidade em duas clínicas em Tambura. Além disso, nossas clínicas móveis ofereceram cuidados básicos de saúde e avaliações para desnutrição em campos de deslocados em Source Yubu. Disponibilizamos serviços de saúde mental, realizamos atividades de promoção de saúde e apoiamos campanhas de vacinação de rotina para crianças, além do encaminhamento de pacientes gravemente enfermos. Em Riang, no estado de Jonglei, uma equipe de emergência de MSF foi enviada para prestar assistência às comunidades remotas que lutam por água potável e por acesso a cuidados básicos de saúde, após anos de violência ininterrupta e inundações. Montamos clínicas móveis, que testaram e trataram centenas de crianças contra a malária e distribuíram itens de primeira necessidade.

Em junho, inauguramos um novo projeto no leste da Área Administrativa Grande Pibor, uma região ampla próxima à fronteira com a Etiópia, onde se deram combates esporádicos entre vários grupos étnicos nos últimos anos. Equipes de MSF construíram um novo centro de saúde básica em Maruwa para atender às comunidades locais e às pessoas seminômades que vivem espalhadas pela região, que têm acesso muito limitado a serviços médicos. Também reabilitamos a ala pediátrica do hospital de Boma.

 

Refugiados e deslocados

Em março, a gestão do campo de deslocados de Bentiu foi entregue ao governo nacional, enquanto Malakal – o último acampamento de “proteção a civis” (PoC, em inglês) remanescente – permaneceu sob a administração da Missão da ONU no Sudão do Sul (UNMISS).

Nos hospitais que administramos nesses locais, nossas equipes continuaram a tratar enfermidades e doenças evitáveis causadas por condições de vida precárias, como, por exemplo, um surto de hepatite em Bentiu, em julho. Apesar de nossas repetidas advertências sobre os riscos à saúde associados à falta de higiene e saneamento, os serviços só começaram a melhorar ligeiramente no final de 2021.

Após uma redução de 50% nas rações alimentares e diante do aumento da insegurança alimentar devido às inundações, os níveis de desnutrição aguda grave ultrapassaram em muito os patamares de emergência. Em nosso hospital no acampamento de Bentiu, abrimos um terceiro centro de nutrição terapêutica intensiva para atender a um aumento de 80% nas internações.

Em resposta às novas ondas de deslocamentos em setembro na província de Yei, enviamos equipes móveis para distribuir itens de primeira necessidade e fornecer assistência médica básica, vacinação e apoio psicossocial. Em junho e julho, também administramos clínicas móveis no município de Yei em resposta a um pico de malária. Enquanto isso, mantivemos o apoio à ala pediátrica do hospital de Yei, a três centros de saúde em Logo, Yaribe e Ombasi, e oferecemos assistência médica básica por meio de nossa clínica em Jansuk.

Em setembro, repassamos nossa clínica no campo de refugiados de Doro, no estado do Alto Nilo, para a ONG Relief International, e mudamos nosso enfoque operacional para ajudar pessoas em áreas de difícil acesso no município de Maban, administrando clínicas móveis e apoiando centros de saúde. Também mantivemos nosso apoio ao ambulatório do hospital de Bunj, que atende tanto refugiados quanto comunidades locais.

 

Tratamento inovador para a malária

MSF vem implementando programas de quimioprevenção sazonal da malária (SMC) no Sudão do Sul desde 2019, com o objetivo de reduzir o alto número de mortes pela doença. Em 2021, lançamos um programa de SMC em Aweil, onde já prestávamos apoio nas áreas de saúde materna e pediátrica no hospital estadual. Até o final do ano, nossas equipes atenderam dezenas de milhares de crianças.

 

Área Administrativa Especial de Abyei

Em Abyei, uma área disputada entre o Sudão e o Sudão do Sul, administramos um hospital de 180 leitos na cidade de Agok, oferecendo cirurgia, cuidados neonatais e pediátricos, serviços de maternidade e tratamento para picadas de cobras e doenças como HIV, tuberculose, malária e diabetes.

*PoC – acampamento de Proteção de Civis é uma área protegida das Nações Unidas para pessoas deslocadas, criado pela primeira vez durante a guerra civil, quando as pessoas fugiram para as bases da ONU.

Dados referentes a 2021

667.400

Consultas ambulatoriais

13.300

Partos assistidos

3.070

Crianças com desnutrição admitidas em programas de nutrição

213.200

Pessoas com malária tratadas

5.750

Intervenções cirúrgicas

11.900

Vacinas contra o sarampo administradas em resposta a um surto

61.700

Internações (pessoas hospitalizadas)

2.720

Pessoas que receberam tratamento por violência física intencional

1.690

Pessoas que receberam tratamento por violência sexual

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